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O olhar da Constelação Familiar para as drogas: palestra de Paulo Pimont na comarca de Camboriú
Ipê Roxo - Instituto de Constelação Familiar | 10/07/18 |

 

Na última terça-feira, dia 03 de julho, Paulo Pimont esteve em Camboriú a convite da Juíza Karina Müller Keiroz de Souza para palestrar sobre o tema das “Drogas” na oficina “Justiça Sistêmica: Vínculos de amor – um novo olhar sobre as dinâmicas familiares”.

A oficina ocorre mensalmente e com temas variados, fazendo parte de uma iniciativa da prática das Constelações Familiares dentro do sistema judicial, conforme iniciado pelo Juiz Sami Storch.

A Juíza Karina iniciou o projeto após participar do curso de Direito Sistêmico com Paulo Pimont, curso este oferecido pelo Instituto Ipê Roxo e que chega agora a sua segunda edição com início em outubro de 2018 (saiba mais aqui).

A palestra foi também recordista de público desde a criação do projeto, contando com ouvintes de diversas áreas, como advogados, servidores, comunidade e adolescentes em conflito com a lei.

Constelação Familiar para as drogas

Drogas: o que atua no vício

Não há, na constelação, nenhuma regra sobre significados de qualquer coisa que observamos na experiência humana. Porém, observam-se certas tendências, conforme notou Bert Hellinger em muitos atendimentos realizados e que foram registrados em alguns de seus livros.

O importante é que esta tendência não pode nunca ser generalizada, pois cada caso é único, e a forma como algo se manifesta em nossa vida, também.

Dito isso, Hellinger observa propensões em seu trabalho. Olhar para isso nos traz um pouco mais de compreensão para algumas áreas, sem necessitar padronizar uma causa e efeito fixos.

No que tange à drogas e vício, Hellinger fala de três observações no livro “Ordens do amor”:

  • A falta do pai: “Alguém se torna viciado quando a mãe lhe disse: ‘O que vem do seu pai não vale nada. Tome só de mim.’ Então, a criança se vinga da mãe e toma tanta coisa dela que sofre prejuízo. O vício é portanto a vingança da criança contra sua mãe, pelo fato de tê-la impedido de tomar algo do pai.”

 

  • O vício como expiação: “Certa vez tratei uma mulher que tinha uma presença forte, porém mais tarde ficou muito mal. Teve um surto psicótico e começou a beber. Mais tarde, quis voltar a fazer algumas sessões comigo e eu a aceitei. A primeira lembrança que lhe ocorreu foi a seguinte: via sua mãe embriagada, deitada no chão, seu pai de pé e inerte ao seu lado, e ela própria zangada com a mãe. Eu lhe disse então: ‘Imagine que sua mãe está ali, deitada no chão, e agora deite-se ao lado dela, ao lado de sua mãe bêbada, e olhe com amor para ela. Ela fez isso. De repente seu amor fluiu para a mãe e com isso ela se livrou da compulsão de expiar.”

 

  • O desejo de morrer: “Um vício que envolve risco de vida, como por exemplo, tomar heroína ou outras drogas pesadas, pode ser uma tentativa disfarçada de suicídio. Frequentemente ela segue esta dinâmica: ‘Eu sigo você ou “Antes eu do que você’; algumas vezes a dinâmica é: ‘Eu morro com você.’”

 

Uma breve explicação

Mais uma vez podemos observar como é fundamental os papéis de pai e mãe para o caminhar saudável do filho na vida. Quando há desrespeito entre os pais, é possível que os filhos tomem este desrespeito para si, ocasionando a interrupção do acesso a um dos genitores.

Isso será sentido como uma falta pelo filho, que poderá buscar preencher este seu sentimento através de experiências externas, entre ela, as drogas.

“Quando nos falta algo é necessário olhar novamente para nossa origem, do quê somos feitos e como é possível estar preenchidos. Somos “feitos” de Pai, Mãe e todos que vieram antes.” Paulo Pimont

Em sua palestra, Paulo falou a partir de sua experiência como psicólogo e constelador: “Todos nós já nos deparamos com a sensação de que falta algo. Muitos sentem que não encontram seu lugar no mundo.”

“Quando nos falta algo é necessário olhar novamente para nossa origem, do quê somos feitos e como é possível estar preenchidos. Somos “feitos” de Pai, Mãe e todos que vieram antes. Quando rejeitamos algum aspecto de nossos pais, mesmo que por um “bom” motivo (ausência ou violência por exemplo), ficamos como que sem um “pedaço” de nós mesmos.”

“Assim procuramos diversos tipos de substitutos para aquela parte que nos falta e as drogas são um substituto que nunca preenche.”

 

O papel da repetição

A outra observação de Hellinger é que muitas vezes nos colocamos a repetir, através do uso de drogas, o destino difícil de um dos nossos antepassados.

Essa repetição atua em todo o sistema e é como se fosse uma imposição dos vínculos para que o que aconteceu seja olhado, sem ressalvas. Ela busca incluir algo, dar lugar a algo ou alguém. As repetições são tentativas de completar algo que ficou em aberto ou trazer de volta o respeito por alguém que pode ter tido seu direito de pertencimento negado.

Quando nos colocamos em contato com o que atua, como descrito no texto de Hellinger, podemos olhar para isso de forma madura, e muitas vezes o que atua perde força. Olha-se com o olhar da responsabilidade e da inclusão, não importa o quão difícil foi.

Também percebemos que a repetição está a serviço de um amor e lealdade que pode ser manifestado de outra forma, sem tantos prejuízos a uma vida mais leve. Dessa forma, é possível seguir adiante, respeitando o que aconteceu.

Já na terceira dinâmica descrita por Hellinger, a droga e o vício são utilizados como uma ponte para a morte, numa tendência que também pode partir da expiação. Isso porque o desejo de morte em membros mais novos da família, pelo olhar de Hellinger, surge quando estes desejam seguir membros anteriores que já morreram. É uma forma de compensação que quando inconsciente, pode atuar com muita força na vida daqueles que perderam algum familiar próximo.

 

Constelação Sistêmica pode auxiliar no tratamento de Drogas?

Como descrito acima, o olhar da Constelação fala da possibilidade de trazer estas dinâmicas que atuam no inconsciente para o consciente e talvez esse olhar possa ajudar a aliviar a força de atração da pessoa para o vício.

A Constelação em si é o momento onde a pessoa acessa uma imagem física do que atua na sua dificuldade, e aqui falamos em especial do vício de drogas.

Olhar e ver é algo que pode permitir o início de uma mudança, que pode permitir o início de um movimento novo e que pode trazer à luz o que se esconde por trás do vício. Porém, somente ver, não basta: é necessário que a pessoa se torne responsável pelo seu movimento em direção à saúde.  Aceitar a responsabilidade de suas próprias decisões é o que fomenta a nova possibilidade que surge com uma Constelação e, é claro, em muitos casos um trabalho multidisciplinar poderá ser de grande apoio para aqueles que enfrentam este desafio em suas vidas. 

 

Sobre as oficinas de Camboriú

Esta é a segunda participação de Paulo Pimont na promoção de uma palestra através desta oficina. Além disso, o Núcleo de Direito Sistêmico do Instituto Ipê Roxo, coordenado por Paulo, trabalha de forma voluntária no suporte de muitos trabalhos oferecidos por este movimento.

Abaixo, um texto publicado pela comarca fala mais sobre isto:

“Na noite de terça feira, 26 de junho de 2018, foi realizada, na Casa dos Conselhos de Balneário Camboriú, Oficina Sistêmica que integra as práticas com efeitos restaurativos e é resultado de uma parceria entre a Delegacia de Proteção à Criança, Adolescentes, Mulher e Idoso, o Judiciário e o projeto “OAB por elas”, da Comarca de Balneário Camboriú.

 A vivência sistêmica está sendo coordenada pela juíza Karina Muller Queiroz de Souza, da 1ª Vara Cível da Comarca de Camboriú, e conta com o trabalho voluntário dos consteladores familiares que compõe o núcleo de direito sistêmico do Instituto Ipê Roxo, de Florianópolis.

Assim, a oficina ocorrida no mês de junho contou com a presença das facilitadoras Samira Turatti e Mônica Zocoli, além da delegada titular da DPCAMI, Inara Drapalski, das advogadas Patrícia Nicodemus Valenzuela e Kátia Corrêa Quintanilha, integrantes do Núcleo de Defesa da Mulher da OAB, da coordenadora Dra. Karina Müller Queiroz de Souza, e do público alvo (em torno de 20 pessoas).

Constelação Familiar para as drogas

Equipe do Núcleo de Direito Sistêmico do Instituto Ipê Roxo e a Juíza Karina Müller

 

Seguindo o movimento

O encontro durou aproximadamente 1h e 30min e contou com a colaboração e participação de todos os presentes, em dinâmicas sistêmicas que puderam demonstrar que cada uma das pessoas vem de um sistema familiar, com seus valores e sua história, e que por lealdade, buscam seu pertencimento, lutando pela permanência dessas “regras” e vivências familiares.

Dessa forma, as pessoas puderam perceber a importância de se respeitar o outro, enquanto indivíduo, inserido em um contexto familiar distinto.

Observa-se que, em uma dinâmica que ocorre entre uma pessoa que lesou alguém e uma pessoa lesada que se sentiu lesada, é importante que as partes em conflito se olhem, tendo cada um dos envolvidos algo seu, pessoal, para ser percebido, não se podendo atribuir a responsabilidade integral pelo conflito a apenas uma das partes envolvidas.

Ao final foi realizada uma constelação familiar, com o tema “a dor e o sentimento de injustiça quanto à acusação sofrida”.

Os participantes avaliaram a oficina, e à questão: “O que eu descobri?”, responderam:

  1. Que não precisamos saber da história para termos empatia pela outra pessoa (entender o outro)”;
  2. O valor do ser humano;
  3. Vivência;
  4. Novas possibilidades de olhar os problemas;
  5. Harmonia;
  6. Foi ótimo, estou mais leve;
  7. Que preciso ser mais tolerante;
  8. Que há outros fatores que interferem na conduta da gente;
  9. Um pouco mais sobre psicologia e constelação;
  10. Aprendizagem;
  11. Coisas boas;
  12. Que devemos olhar com novos olhos todo o carga que as pessoas carregam e que o conflito deve ser evitado a todo custo.

Ainda, no que tange às sugestões, responderam, em suma, que este trabalho deve continuar.

Juíza Karina Müller e o Professor Paulo Pimont

Juíza Karina Müller e o Professor Paulo Pimont

 

Foco humanizado

Nesse passo, importa anotar que a aplicação de métodos de resolução pacífica de conflitos e a integração entre a Polícia Civil e demais instituições, fortalece o trabalho em rede e o conceito de segurança cidadã. É evidente, especialmente nos casos que envolvem questões familiares e emocionais, que o direito penal, sozinho, não soluciona os conflitos.

Exemplo disso é a reincidência nos casos de violência doméstica e a repetição sucessiva das vítimas que comparecem à Delegacia.

Dessa forma, a busca por soluções alternativas, além de humanizar o atendimento da Polícia Civil, tende a alcançar resultados mais eficientes, que desconstroem os ciclos de violência inseridos no seio familiar. O método tem sido adotado como forma de ajudar famílias a buscar soluções, inclusive na esfera cível, sem a necessidade de judicialização.

As oficinas e vivências ocorrerão mensalmente, das 19h15min às 21h00, a partir de julho na Delegacia Regional da Polícia Civil. Os interessados em participar devem entrar em contato com o “Núcleo de Defesa à Mulher Vítima de Violência Doméstica”, na pessoa da Dra. Patrícia Nicodemus Valenzuela ou Dra. Kátia Corrêa Quintanilha.

As advogadas prestam atendimento todas as quartas-feiras na DPCAMI de Balneário Camboriú. 

Telefone para contato sobre as Oficinas
Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso de Balneário Camboriú: (47) 3363-0193

 

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