Neste fim de semana teremos o último módulo da primeira turma de formação em Contoterapia do Instituto Ipê Roxo. Ouvimos o retorno dos alunos de como tem sido a experiência no primeiro e segundo módulo. E isto nos motiva cada vez mais a seguir na ampliação desta grande ferramenta que é a Contoterapia.
Em preparação para este momento, a professora do curso Sonia Farias escreveu uma reflexão sobre o caminhar desta primeira turma até aqui. E faz o convite para finalizarmos esta caminhada neste fim de semana.
Um sentimento de saudade, influenciado pelo fim que se aproxima da primeira turma se contrasta com a alegria da expansão que a Contoterapia tem manifestado. A turma 2 e 3 de Florianópolis e Londrina já estão com suas vagas sendo preenchidas, em um novo ciclo que se inicia em maio de 2018.
Leia o texto abaixo e nos acompanhe através dessa pequena história contada a nós pela Sonia. Sabemos que algo irá tocar seu coração.
Com Regina Machado aprendemos que “Estar presente é poder presentear.”
O contador é ALGUÉM presente e apaixonado pela “imaginação”. Paixão, intenção e imaginação andam bem próximos a ele! Contar é sua nobre missão!
Depois dos 1°e 2° Módulos, a palavra contadora do 3° módulo chega fantasticamente carregada de entusiasmo, chega para tocar ainda mais nossos corações. Vamos aprender a despertar aquele outro ser dentro de cada ser.
O conto é como uma bela canção que faz bater forte o coração. Às vezes como um despertador, como o arauto do Rei, e às vezes, um doce som de um violão.
Sim, um conto pode fazer da vida uma festa com muita celebração. Um marco. Um antes e depois. Conte, cante, a hora já chegou.
Estamos encerrando a Jornada com nossa primeira e amada turma.
Nossa “Formação em Contoterapia” propôs a todos uma ordem que jamais será esquecida. Uma linguagem que achávamos que não entenderíamos, mas quando o conto começou a falar, um silêncio sagrado se aproximou emudecendo nossa voz.
O conto é a linguagem de um amor que cura, instrui e salva. Assim, a partir do pensamento simbólico, brincamos muito, porque aqui tudo pode acontecer, de ‘serviçais e escravos’, podemos ser ‘Reis e Rainhas’. O peso dos ombros foi retirado, as mãos foram liberadas de trabalhos desnecessários.
Os contos antigos impulsionaram a alma e à compreensão de coisas até então enigmáticas, muita coisa boa começou acontecer entre nós!
Quanta bênção!
Querido(a) você é um contador, ou melhor, um “narrador-serôdio. O desafio está com você, comigo, com todos nós. Sejamos autênticos guardiões e contadores dos contos milenares.
Mantenha-se acordado, é hora de sair da cama, já dormimos o suficiente, vem correndo, antes que seja tarde. Vamos remir o tempo.
Como diz o maior contador de histórias, Jesus: “A seara é grande, ore pedindo por mais trabalhadores”. Olhe ao seu redor, busque companheiros na sua jornada. Vamos nos levantar e contar com todos os nossos recursos e arte, muita arte. Use o que você tem.
Ganhou? Repasse. Use seus talentos e dons. É sua vez, conte com paixão essa sabedoria intocada que vem atravessando gerações e culturas!
Sim, conte e coloque todos no palco, pois somos todos protagonistas. De alguma forma e em algum lugar, estamos todos dentro dos contos, narrando nossas próprias histórias. Ali experimentamos nossa humanidade, nossos valores, dignidade, beleza e amor.
Com nossa ‘capacidade inventiva’, o pensamento simbólico, invocamos e criamos outras imagens. Com amor, criamos soluções, percebemos provisão e direção. Sim, era uma vez … e também podemos dizer como Vasalisa: … e não era uma vez …
Estamos aprendendo dia a dia a linguagem dos símbolos, a linguagem materna da vida criativa. Todo dia um SIM. Outro dia ouvi de nossa querida amiga Leda Lisboa (aluna da 1° turma de Contoterapia), ‘Cada dia tem o seu SIM’. O pão nosso de cada dia, o ‘SIM’ nosso de cada dia.
Assim, nos tornamos reis, príncipes, rainhas, bobos da corte, mestres, sábios, dragões e heróis, todos eles. Em algum lugar, eles permanecem vivos dentro de nós. Por isso é que se diz: ‘… uma alma perdida é encontrada e não consertada.’
Sejamos garimpeiros de boas histórias. Doravante, alimente-se dia a dia com as melhores histórias, exercitando o SIM de cada dia. Segundo Bert Hellinger, SIM é a prece mais elevada, mais humilde e liberadora.
Acorde o seu SIM, hoje, agora. Quando contar, leve no coração o seu SIM, olhe com o cantinho do olho para o inefável, confie, e faça o seu melhor, da melhor forma que puder. Assombre seus queridos. Que cada um possa dizer assim: – “Não sei, só sei que foi assim”. Uauuu….
Uma ressonância às memórias, diálogos inusitados, encontros, desencontros, reconciliações, amor que cura e instrui brotam majestosamente com nosso nobre trabalho.
Confie! Com disse o Padre Antônio Vieira: ‘A esperança é a doce companheira da alma.’ Paciência! Com paciência se vai a qualquer lugar. A paciência coloca ALGO em movimento, sempre.
CONFIE!
Isso é arte.
Isso é viver.
São afetos, intuições, instintos, self, fantasia, anima, animus, enfim qualquer arquétipo pode surgir. São todos bem vindos. A vida é como um conto ligeiro, estamos todos os dias diante daquele grande banquete de Babette, tudo pode ser degustado e processado de algum jeito. É só respirar fundo e se deixar levar no imaginário com nossas sagradas ressonâncias.
Eis o assombro!
É reverente!
Um mistério!
São experiências internas que a imaginação vislumbra. Contar nada mais é do um delicado convite para olhar os mesmos fatos de um outro lugar.
Bem vindo ao 3° Módulo com novos autores, novas histórias.
Veja no livro ‘Histórias que curam’ da Dra. Rachel Remem, um pequeno relato sobre “A moça judia”. Ela viveu o ritual da preparação num almoço de Páscoa, uma experiência fantástica.
Ela diz: “Percebi que eu era um fio de uma grande tapeçaria tecida pelas mulheres em nome de Deus desde o princípio. Você pensa que isso faria com que me sentisse pequena, mas não fez. Tive uma perspectiva abrangente. Eu era um único fio, mas eu fazia parte, e isso era uma coisa que eu nunca vivenciara antes.
De repente eu não estava sozinha. Tive a sensação muito real das muitas mulheres que sempre fizeram essa questão corriqueira – preparação da celebração da páscoa -, eu estava ali, entre as muitas mulheres, estavam minhas avós, que viveram e morreram em Varsóvia antes de eu nascer.
Naquele instante eu soube também que, se a raça humana continuasse, haveria mulheres segurando pratos enfrentando em suas cozinhas e esse mesmo problema. Para alguns vislumbrei algo maior, não só sobre quem eu sou, mas sobre de quem eu sou. Durou apenas um segundo, mas posso lembrar-me claramente. Eu me senti mudada por isso.”
Algo impactou a moça judia. Como diz Leszek Kolakowski, no livro ‘A presença do Mito’, “… mítica é toda experiência que transcende o finito e contingente, por que não se esgota na sua descrição. O horizonte do mítico é o impulso de crença compreensiva, além da explicação científica”.
Esse é o efeito do impacto que ressoa para além da pessoa em si, alcança outros, conferindo o sentimento de pertencimento a uma realidade maior que a pessoa, a cultura e o tempo datado. Esse é o seu e o meu nobre ofício doravante. Despertar aquele que vive perenemente dentro do ser humano, e que precisa acordar, porque chegou a hora.
Somos uma gota, um único fio como percebeu ‘A moça judia’:
Sim, como ‘A moça judia’, cada um deve saber contar sua própria história. De onde veio, suas memórias, onde se encontra, e saber aonde vai. Cada um deve falar sobre sua jornada aqui na terra. Quem sou e a quem pertenço. Para isso estamos aqui.
As trajetórias de todos os contos, mitos, contos de fadas tradicionais, não são apenas invenções para entretenimento. Na verdade esta é a trajetória humana, ou seja, a saída da ignorância em direção à sabedoria.
É entrar no tempo onde se invoca o estado de presença, que faz desencadear em quem escuta, uma experiência singular. Entrar nesse tempo sagrado faz despertar a consciência. ‘O que é claramente revelado, se torna luz.’ Agora o que importa é seguir a direção deste novo caminho iluminado. O antigo oráculo afirma: ‘Lâmpada para os pés é a palavra… um passo após o outro, e também é luz para o futuro’.
Olhamos para o futuro e o acenamos com alegria. Há espaço para a esperança. Veja no conto “A página Branca”, Karen Blixen traz a fala de uma jovem aprendiz na arte de contar:
Minha avó me dizia: – Seja fiel à história. Eterna e inquebrantavelmente fiel […]. Escute bem: Quando se é fiel, eterna e inquebrantavelmente fiel ao conto, é então que o silêncio começa a falar. Quando a história é traída, o silêncio é vazio. Mas nós, os fiéis, quando dizemos nossa última palavra, nós ouvimos a voz do silêncio. […] Quem então conta a mais bela história, melhor que qualquer um de nós?
O silêncio.
Sim, aqui está o nobre silêncio que aprendemos com os monges e mestres.
Tudo pára!
Vamos ouvir um gentil sussurro, aquela linguagem que pensávamos que havíamos esquecido. O alerta é: Ouça querido(a), entenda bem! Permaneça atento. Cuide-se! Você me escutará agora? Está disposto?
Encerro carinhosamente com as palavras de nossa amada Clarissa Pinkola Estés, o que denominamos no Ipê, no grupo Lobas, como o nosso SOS da alma:
“Sinta, ouça e siga a orientação da voz da alma!”
Beijos fiéis.
Sonia Farias
O Ipê Roxo – Instituto de Desenvolvimento Humano é pioneiro em Florianópolis no trabalho com as Constelações Sistêmicas. Foi fundado pelos consteladores Sonia Farias, Maria Inês Araujo Garcia Silva, Paulo Pimont e Ana Garlet. Constelação Sistêmica é uma nova abordagem da Psicoterapia Sistêmica Fenomenológica criada e desenvolvida pelo alemão Bert Hellinger após anos de pesquisas com famílias, empresas e organizações em várias partes do mundo. O resultado desses estudos se transformou em um trabalho simples, direto e profundo que se baseia em um conjunto de leis naturais que regem o equilíbrio dos sistemas que o próprio Bert gosta de chamar de “Ordens do Amor”.