A pedagogia sistêmica vem sendo desenvolvida nas últimas décadas em vários países do mundo e é um método educativo, uma prática dinâmica que está vinculada ao contexto educativo e que denominamos campos de aprendizagem.
Ela vem ampliando a visão significativa do todo na relação escola-família, trazendo a possibilidade de criarmos, a partir da escola, um ambiente de inclusão onde todos possam assumir os seus papéis, levando em conta os sistemas familiares, educativos e institucionais.
Sua abordagem integra o grupo de origem do individuo e sua família no tratamento, reconhecendo o que atua no comportamento, na atitude, nas dificuldades, nas doenças e conflitos vivenciados pelas crianças. Através do olhar sistêmico familiar podemos trazer à luz a dinâmica escondida no sistema desta criança, o que nos permitirá desenvolver um trabalho efetivo, resgatando a força interior desta família. Desta forma, a capacidade de compreender o comportamento desta criança fica ampliada, tornando possível a reconciliação desta com ela mesma e com seu sistema familiar, escolar e em outros espaços sociais.
Segundo Olinda Guedes (2012), a Pedagogia sistêmica surgiu dos estudos aprofundados da visão sistêmica no âmbito da pedagogia. O treinamento em terapia sistêmica fenomenológica, difundida pelo filósofo Bert Hellinger (2007), foi adaptado para ser realizada no âmbito escolar. Os estudos apontam para maior enfoque nas percepções, permitindo uma visão clara e objetiva dos emaranhados dentro da escola e da educação de um modo geral.
No campo sistêmico é possível verificar as origens dos conflitos e experimentar novas soluções, possibilitando uma melhor dinâmica de funcionamento para a instituição escolar e todos os envolvidos nela.
Para a professora alemã Marianne Franke-Gricksch (2009), que experimentou em sua classe, com alunos adolescentes, os movimentos sistêmicos do filósofo e terapeuta alemão Bert Hellinger (a experiência de Marianne pode ser conhecida pela leitura de seu livro “Você é um de nós – percepções e soluções sistêmicas para professores, pais e alunos”, publicado em 2009 pela Editora Atman), as constelações familiares permitem revelar o fato de que fazemos parte de uma grande alma (grande sistema) que compreende a todos os membros da família, sujeitos a uma ordem essencial. O sistema de educação, familiar e o social encontram-se em constante interação na sala de aula.
A Pedagogia Sistêmica mostra que, para que o processo de aprendizagem flua eficazmente, é preciso respeitar as origens e contextos de cada elemento/aluno, ou seja, ter consciência de que cada aluno vem de um contexto específico, fundamental para o seu desenvolvimento, e é preciso estar disponível afetivamente, ter como valores o agradecimento e a admiração, pela vida, pelos pais destas crianças.
Olinda Guedes (2012) enfatiza que algumas vezes percebemos nossos alunos sendo excluídos, outras vezes observamos que fracassam na escola repetindo apenas padrões ocorridos em seu sistema de origem. Repetem o destino de seus pais, irmãos, tios, avós. Se há inversões de papéis, ou pessoas ocupando lugares que não são os seus, há sofrimentos.
A pedagogia sistêmica pode ser aplicada em situações de desintegração, de dificuldades de aprendizagem, de problemas comportamentais, em conflitos e quaisquer problemáticas que surjam no sistema escolar direta ou indiretamente.
Nas organizações, os efeitos dessas “leis” são observados nas dinâmicas de sucessão e liderança, fusões, contratações, demissões, promoções, capacitação, direitos trabalhistas, etc.
Nas instituições de ensino, conhecemos bem as tensões e conflitos criados pelo descaso, precarização e mercantilização da educação e as consequências daí decorrentes, em todos os níveis. O bullying – agressividade dos alunos para com os professores e entre si – é o maior retrato desse caos.
As 3 Grandes leis de Hellinger
Ao clarificar as funções, papéis e a hierarquia (LEI DA ORDEM) potencializa-se o sentimento de que todos têm um lugar (LEI DO PERTENCIMENTO) e evita-se sobrecarregar e tirar a força de diretores, professores, alunos e da própria aprendizagem. O mesmo para a equivalência entre dar e receber (LEI DO EQUILÍBRIO): o que cada um dá e o que cada um recebe na dinâmica da escola? Que parte cabe a cada um, enquanto responsabilidade, e como a escola faz esse reconhecimento?
Outro aspecto que nos faz refletir dentro de uma visão sistêmica é o alto índice de alunos desmotivados para estudar, para a vida, para o futuro. Em que parte do passado ele está conectado que não consegue caminhar para a vida? O que não é motivador na vida atual deste aluno? Que movimento a escola está realizando que acaba excluindo este aluno?
Para que esse movimento de inclusão dê certo, é necessário que os professores, ao olharem para seus alunos, enxerguem através deles seus pais, mesmo sem conhecê-los. São os pais que dão a força para que os filhos se tornem ativos na vida, independente do que eles tenham feito ou vivenciado.
Conhecer os fundamentos do campo sistêmico familiar tem exercido influências precisas e eficazes em muitos casos e atendimentos clínicos realizados em todo o mundo, abrindo caminho para soluções destes conflitos escolares e familiares.